domingo, abril 15, 2007

As batalhas que travamos

Por todas as guerras sem sentido que chacinam milhares de inocentes.

Se centenas de soldados se perfilassem mortos, ensaguentados, com os seus lindos uniformes rasgados, cobertos de sangue, com as suas armas descarregadas, os olhares fixos no chão e os braços caídos seriam um espectáculo impressionante.
Se todos esses soldados se abraçassem às suas famílias a partir dos seus caixões, se os seus lábios gelados tocassem por uma última vez na pele quente e juvenil dos seus filhos, se todos eles chorassem de novo nos ombros daqueles que os amaram em vida e amarão agora mortos dar-nos-iam naúseas nas nossas consciências pesadas.
Se todos esses mortos marchassem para as cabeças dos que os mataram ao declarar a guerra à paz das suas vidas em nome de deus e outros valores monetários causar-lhes-iam pesadelos de morte. Jamais voltariam a dormir.
Se todos eles clamassem que eram os mortos errados, que tinham sido colhidas as vidas mais inocentes, as que nada tinham a ver com aquele estúpido conflito, as que foram mobilizadas por tiranos (democráticos ou não), encorajados por abutres, se ele gritassem "Só morremos porque não somos os vossos filhos", às suas vozes juntar-se-ia o choro dos vivos que os perderam.
Mas os mortos nao falam, não se mexem, não choram, não marcham. Os mortos estão mortos, mas tão mortos que jamais tirarão o sono aos seus assassinos. Apenas vivemos nos corações dos que nos amam (quer respiremos, quer depois da azáfama metabólica do nosso corpo cessar para sempre). É tão injusto que só sofram aqueles que nos deram a vida. É tão injusto que só morram os filhos dos outros. E os pesadelos nascem nos corações das mães que por um golpe cruel do destino deixaram de o ser - perderam o seu filho. Apenas elas mergulham no sono atormentado de ter a vida em pedaços.
E Deus (o verdadeiro) chora tanto que nem tem coragem de dizer "«Mulher, aí tens o teu filho.» e depois (...) ao discípulo «Aí tens a tua mãe»"[Jo 19, 27] e nenhum discípulo as poderá acolher em sua casa.
E não diz porque espera que tudo acabe, que estas mães façam das tripas coração e incendeiem o Mundo que lhes roubou a razão para viver. Mesmo sabendo que não pode pedir isso, mesmo sabendo que vão ganhar os do costume.
E no entanto quando alguém chama pelo nome de deus e dos outros valores monetários (câmbios apenas ao olho humano) há sempre quem dê palmadinhas nas costas ao assassino, quem grite de júbilo, quem apoie a carnificina.
E nem falo dos civis.
Os mortos estão mortos, mas tão mortos que não entram nos sonhos dos assassinos.
E Deus? Deus chora e espera pelo dia que vamos incendiar o Mundo com o revolucionário conceito de paz.


Porque isto não passa de uma fantochada para alguns ganharem muito à custa da vida dos outros. Que triste teatro que encenamos.

Os mortos estão mortos, mas tão mortos...

1 comentário:

Shaolan disse...

“Os mortos estão mortos, mas tão mortos…”.
E no entanto tantos que choram continuam pensando que toda esta história faz sentido; revirando os olhos quando uma das mais simples almas (a de uma criança por exemplo) lhes tenta devolver a vista. Muitas vezes é assim que me sinto (perante tudo isto): uma mente simples.

Está muito bonito, e é muito bom que nos lembrem o que realmente faz sentido de tempos a tempos, questão de não nos perdermos pelo meio dos complicadíssimos subterfúgios que a sociedade tanto se esforça por criar para nos “tornar a vida mais fácil”. Brigado
****