domingo, maio 04, 2008

Let's Talk

[Há coisas que só pertencem ao passado]



[
mais tarde, ainda mais gente me rodeia]

Pego no telemóvel ansiosa... Tenho de ter rede... É um caso urgente. O servidor não pode assim de um momento para o outro ignorar a emergência que a minha mensagem constituía... Vá lá.... Vá lá... De cinco em cinco segundos meto a mão no bolso do telemóvel para me certificar que ninguém me contactou. Um gesto nervoso, um vício, um arrependimento "porque é que não combinei antes no fim?". Salto num pé, salto no outro. Ah, graças a Deus, uma mensagem "Onde estás exactamente?". Respondo a correr e continuo a ladainha do "Vá lá, entrega...". Tento acalmar-me, mas insistentemente recordo-me que estou a tentar encontrar uma agulha móvel num palheiro pantanoso. Não tiro os olhos do horizonte estreito que enxergo e ganho outro vício: pôr-me em bicos de pés, não que veja mais alguma coisa, mas porque me dá a sensação de estar a fazer algo de produtivo para além de estar a olhar em frente. E como uma corrente violenta aproximas-te. Num desalinho, ofegante, nem podes crer que estou em frente aos teus olhos. Começas um relambório de críticas, queixas e pedidos de desculpas até que te apercebes que eu estou em silêncio e também te calas, quase receosa pelo que vem aí. Então eu abraço-te, não muito longamente, mas num abraço cheio de significado. E as tuas lágrimas caem uma a uma no meu ombro, bordam-se no tecido, traçando um padrão secreto e eterno. Não sei dizer se foram de alegria, se foram de tristeza, se uma mistura das duas coisas (o mais provável), mas sei que me fizeram acreditar um pouco mais que há mesmo milagres.

"Porque há sempre muitas coisas que podes oferecer: carinho, companheirismo, acompanhamento" citação adaptada