domingo, abril 25, 2010

Foi de propósito


Foi mesmo.
Foi de propósito que , pela primeira vez deixei um mês em branco no arquivo deste blogue.
Decidi fazê-lo porque sinto que estava a entrar numa monotonia que embotava o espírito por completo. Não que agora sinta que o que tenho para dizer seja resplandecentemente inovador, mas pelo menos sei que não o faço por uma obrigação auto-imposta.
Bem, estou prestes a realizar um sonho que tenho desde que entrei para a faculdade, a fazer um dos exames que, por certo, mais me vai custar fazer nestes 6 anos e a começar mais uma Queima.
São coisas importantes, mas o que mais me custa são as saudades de tempos passados, que embora recentes deixaram a sua marca bem visível.

É tudo, com vêm nada de novo, mas, bem...

domingo, fevereiro 07, 2010

quarta-feira, janeiro 13, 2010

"Pagã Triste e com flores no regaço"


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassosegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podiamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.



Ricardo Reis