segunda-feira, outubro 22, 2007

Depois do véu

O Sirius sentou-se numa pedra coberta de folhas
secas. Afastou os cabelos da cara e esfregou os olhos secos. Emitiu um bocejo
que fez os poucos pássaros das redondezas levantarem voo.
Só se lembrava de
ter sido atingido por um feitiço da Bella e cair para trás de um véu. Ao longe
ainda soava a voz do seu afilhado – chamava por ele, mas ele não sabia como
voltar. Estava preocupado. Se o Harry gritava assim era porque precisava de
ajuda.
Pôs-se de pé e olhou em volta. Estava num bosque de carvalhos e era
Outono (“eu ia jurar que era Junho”), uma luz silenciosa e coada iluminava tudo.
Ou seria o contrário? Tudo emitia luz. Não podia precisar. Olhou para si
próprio: estava nu! Abismou-se com esta descoberta.
Sem dúvida que a prima
dele era um bocado estranha (“ainda estou para saber o que fizeste ao Puffskein
da Dromeda naquele Natal”), mas enviá-lo para uma floresta… hum…
encantada???(“que expressão mais Muggle”) nu e sem varinha, era demais.
Nem
valia a pena tentar aparecer. Pelo menos podia transformar-se, pela certa. Assim
correria mais velozmente e sem se cansar tanto.
Inclinou-se para a frente e
esperou pelo formigueiro bem conhecido que lhe provocava o crescimento da
pelagem.
Sem dificuldades até agora. Curiosamente nunca se sentira tão
confortável na pele de cão. Nem a língua pendente nem o rabo o incomodavam
(nunca se habituara completamente a eles). Agora era só correr. Mas em que
sentido? Tudo lhe parecia igual.
“Bem, vou em frente”, mas por mais que
avançasse e virasse a paisagem era sempre a mesma.
“Laje, carvalho furado,
cogumelo, laje, carvalho furado, cogumelo OUTRA VEZ?!”
Maldito feitiço,
começava a irritar-se e a jurar matar a prima quando saísse dali.
“O Prongs é
que tinha um bom sentido de orientação!” recordou, invocando as suas memórias de
adolescente em que ele e o amigo percorriam os corredores nocturnos e
silenciosos de Hogwarts em busca de trapalhadas, comida ou raparigas (embora
estas últimas pesquisas lhes saíssem quase sempre frustradas – deixou um latido
curto escapar-se).
Continuou a caminhar até que apareceu um veado por trás de
uma árvore.
“Parece que consegui quebrar a repetição”
O veado levantou-se
nas patas traseiras.
“Corre que ainda levas uma cornada.”, começou a pensar,
mas observando mais de perto… Era o James!
“Padfoot?” chamou a sua voz rouca
(“Eu falo enquanto cão?? Definitivamente este lugar é estranho”). O rapaz à
frente dos seus olhos tinha 17 anos e vestia o uniforme da escola. Trazia os
óculos de banda, como tinha andado cerca de um mês após os ter partido numa
manobra de Quidditch, recusando-se a repará-los, alegando que era um troféu da
sua vitória naquele jogo.
O Sirius voltou à forma humana. Repetiu o gesto de
se olhar. Também tinha 17 anos e usava o equipamento dos Gryffindor.
-Ei!
Onde estás? Onde estamos? Que saudades Prongs! O que é isto?
O James riu-se
de uma forma triste e os seus óculos desengonçados subiram-lhe comicamente na
bochecha.
-Lamento Pads.
-O quê? É óptimo ver-te! O que foi? Porque estás
com essa cara?
Os olhos de James estavam negros de tristeza.
-Sirius, tu
morreste.
Olhou para o amigo. Não podia ser. Ele estava a delirar. Então… ele
só caíra… o véu… não podia ser... mas agora que reparava – não respirava, do
coração não sentia o palpitar, tinha uma consciência aberrante do seu corpo…
como se ele fosse feito de ar, ou melhor, de pensamentos, não mais que uma alma.
Se calhar era esmo verdade…
-Vou matar a minha prima assim que ela
morra.
-Ahahahah, Sirius, tem juízo!
-Eu não posso estar morto. –
explicou-lhe como se ele fosse um miúdo que teimava em fingir que não percebia
porque não podia comer mais sapos de chocolate – Eu tenho que ajudar o Harry!
Ele está em apuros!
Um sorriso condescendente iluminou a cara do
James.
-Tens sido um óptimo padrinho, Sirius, mas agora é a tua vez de
descansares. O meu filho safa-se melhor do que o que tu imaginas.
-Maas… ah…
ele… ah… a Bella…
-Anda – pôs-lhe a mão sobre os ombros – Tens saudades de
Hogsmeade? Vamos lá beber uma cerveja de manteiga. Ou um uísque de fogo, se não
nos apanharem, claro… Afinal só temos 17 anos…
Riu-se para o amigo que ainda
parecia inconformado e apanhado de surpresa e começaram a caminhar em direcção
ao infinito. Após um longo silêncio (já mal se distinguiam as suas silhuetas) o
Sirius apontou:
-Sabes, James, és o meu melhor amigo.
-E tu o meu, Sirius,
e tu o meu…


Personagens da JK Rowling, inspirado no 5.º livro da série Harry Potter (A Ordem da Fénix). Nada disto é real ou sequer corresponde à ficção criada pela autora da saga.
Espero que não achem nem muito triste nem muito mal escrita. Lembrei-me disto ontem quando me estava a sentir especialmente nostálgica.

3 comentários:

Atlas disse...

Achei particularmente estranho o recurso a cogumelos... Sendo o mundo de Harry Potter um mundo fantástico em que tudo pode ser inventado, julgo que poderias a um outro alimento ou fungo que transmitisse a ideia que querias transmitir..

Resumindo, indignação e tristeza por teres utilizado uma referência tão óbvia ao grande mal das sociedades industrializadas actuais: a anorexia!

De resto, muito bom!

Saudações!!

Anónimo disse...

Soooo cool!!! "Behind the veil" fics just rule!
“Corre que ainda levas uma cornada.” - de mais!!a tipica frase do Padfoot. E entao a ameçar a prima, isso é mesmo a cara dele xD So axei estranho ele xamar lhe Bella, afinal eles odiavam se e tal xD otherwise its quite cool. Gostei do ambiente escolhido tb, e parece normal eles terem 17 de novos
Kissies =)

Shaolan disse...

Altamente! lol gostei! Só tenho 2 perguntas: não dá para mudar a formatação é que ta 1 pouco pó complicada; e esta história passa-se mesmo entre Sirius e James, ou apenas na cabeça de Sirius?

Mas para alem disso gostei, sobretudo vai despertando muita curiosidade ao longo da história!!!
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