sexta-feira, junho 29, 2007

Famous Last Words - segundo a música dos My Chemical Romance

Aqui é sempre Outono. As folhas douradas caem com melancolia, vogando no vento para colapsarem no chão multicolor e nos riachos, onde flutuam, bailarinas exímias.
O ar frio envolve-me como uma película finíssima que se colou ao meu vestido branco.
Raios de sol penetram, curiosos, pela folhagem que a pouco e pouco se depaupera e torna esparsa.
No cruzamento dos dois riachos platinados está uma mesa do mais sólido granito, amplamente iluminada pela luz esmorecida.
Nas pernas dessa mesa crescem cogumelos vermelhos e venenosos, cercando-a por todos os lados, como paliçadas em campos de guerra.
Sobre a laje estás tu. Deitado, de armadura vestida, a espada caindo-te da mão esquerda e uma seta cravada no pescoço. Sangras abundantemente e a tua pele está cada vez, perigosamente, mais branca.
Os teus loiros cabelos já estão cobertos com uma pasta negra e espessa.
Sinto-te gelado e a tremer. A mancha vermelha alastra no teu brasão de armas e entranha-se na tua cota de malha.
Ponho a minha mão sobre a tua e tiro-te a espada, apesar de resistires levemente. Seguro-te com força e sinto as minhas lágrimas escaldantes verterem sobre este enlace.
Tentas mexer os teus lábios brancos e trémulos para me sussurrar qualquer coisa.
Aproximo-mo e a cortina do meu cabelo negro cai sobre ti. Balbucias, tentas erguer-te e apertas a minha mão com toda a energia que te resta. Com o meu cândido lenço bordado, limpo-te o suor pastoso da testa até que consegues falar.
“Lutei e perdi”, sublinhaste com uma lágrima.
“Não há vergonha em perder quando se luta por amor”, respondi aos soluços.
Então escancaraste os teus lindos olhos verdes ao céu e exalaste o teu último suspiro.
Tinhas partido e eu não te podia seguir.

Era Inverno e nevava. Todo o chão estava atapetado de branco e os riachos haviam congelado.
As árvores, completamente nuas, já não contribuíam com as suas folhas para o sossego do lugar. Em vez delas, tinham agora grossas camadas da neve mais branca.
Um sol velado por nuvens opressivas espreitava sobre a mesa onde morreste.
A bainha do meu vestido negro de veludo tinha encharcado e pesava-me a caminhar. Dava portanto passos lentos e custosos, ainda para mais trazia a tua espada presa à cintura. Aconcheguei capa preta de pesada lã aos ombros. Estaquei e o olhei para
a laje, estava vazia e coberta de neve. Passei a minha luva na pedra gelada. Nada.
O Inverno instalou-se também em mim, mas não ia durar só três meses.






Oh, muito fraquinho. Preciso de arranjar uma vida...
Mesmo muito fraquinho.
Talvez o pior que já escrevi.

3 comentários:

Anónimo disse...

“Não há vergonha em perder quando se luta por amor”.
Nao há não. E que alivio para nós.

Anónimo disse...

Tal como a mariana, ia mesmo pegar nessa frase "Não há vergonha quando se luta por amor"
E, se esse é dos teus mais fracos... tens k mostrar-me um dos melhores, porque este esta maravilhoso ;).

*******

Persefone disse...

Waw, thanks :$
Eu n gosto, está muito depressivo, e, como já disse à Mariana faz pouco sentido... Não sei porque é que voltei ao lugar onde ele morreu e ainda não decidi se fui eu quem o matou. Provavelmente fui, e isso é o que mais me assusta!

EEEh, dos melhores, eu não tenho disso Adriana....