sábado, janeiro 20, 2007

Porque há coisas sérias que não nos podem passar ao lado

Sempre evitei falar deste assunto aqui porque não tenho uma opinião rígida sobre o mesmo e porque penso que é um questão pouco relevante na nossa sociedade, o aborto.
Não quero discutir este tema, mas a falta de pertinência que os nossos políticos mais uma vez demostraram ao chamá-lo à discussão pública.
Razões pelas quais eu acho o referendo um pouco ridiculo (perdoem-me a frontalidade):
1) Não me digam que não se lembram de mais NADA que precisa de ser mudado na sociedade... Já agora e uma vez que, segundo os apoiantes do sim (que designação redutora para o ponto de vista de alguém, mas...) tratamos de uma questão de saúde pública, porque é que ninguém prefere perguntar-nos se queremos ver os nossos hospitais privatizados? Eu preocupo-me com este tema bem mais do que com o que vai a referendo, como futura médica e como inevitável utente.
2) Porquê eu? Quem sou eu, Agripina de Sousa, bancária, João Antunes, motorista, Alberta Silva, advogada ou mesmo Bárbara Magalhães, médica para dizer o que é uma vida e qual o seu valor. Porque é que este problema é posto à sociedade civil, o que percebemos nós da "poda"?
3) Ultrapassamos a barreira da simples despenalização, queremos comparticipar. E a minha cirúrgia, da qual já estou à espera há anos? Não será justo questionar? Porque é que vamos sobrecarregar o SNS com mais um tratamento que a meu ver não é urgente, necessário nem vai, obrigatoriamente melhorar a vida de alguém (até pode causar o contrário, veja-se!). Porquê pôr os médicos dos nossos hospitais perante um dilema ético? Não era mais humano deixar aqueles que entendessem querer praticar esses actos praticá-los onde bem entendessem, mas não nos hospitais que nós financiamos? Vejam a posição desse médico que está a atender pessoas num hospital quando lhe pedem para que faça um aborto. O dever do médico é preservar, melhorar a Vida, não tirá-la. Praticar um acto abortivo viola frontalmente o código deontológico....
E mais, o governo dá, perdoem-me o pleonasmo, DE GRAÇA a pílula contraceptiva.... só não toma quem não quer.
4) São assim tantos os abortos que se praticam? Se sim será a despenalização a questão importante ou o péssimo resultado que a educação sexual (bem como a outra) está a ter na nossa sociedade. O que é que falhou, não é melhor procurar primeiro a causa do que tentar mexer num resultado?

Como vêm existem inúmeras outras questões que deveriam ser abordadas, e estamos a perder tempo e dinheiro com a que é, a meu ver, a menos pertinente.
Não sou pelo sim nem pelo não, não é isso que quero ver discutido como cidadã portuguesa, já como futura médica(???? imaginemos que sim, não é?), o caso muda de figura e sou frontalmente contra que um médico pratique um acto anti-vida.


Vamos mudar de assunto, po favor... Falemos da Sida, falemos da pobreza, falemos do desemprego, falemos do caos em que está a nossa economia e do nosso futuro, não de pseudo-assuntos pseudo-importantes.

Para quem quiser mesmo discutir este assunto, no blog do meu colega Nuno (lista de Links) está em aberto um debate de extremo interesse no qual também participei.

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