sábado, maio 02, 2009

Misread, Kings of Convenience







Sentados frente a frente num café a transbordar, falas-me de algo desinteressante e monótono. Eu sorrio, não quero interromper, seria mal-educado. Tu continuas, incessantemente a relatar a tua lista de feitos e glórias, acontecimentos insignificantes na vida de outros que não me dizem respeito. Recosto-me e contenho um suspiro, de novo sorrio.
Nada me poderia interessar menos que o que dizes, o que fazes o que és. Concluo que, a meus olhos, és a pessoa mais secundária do Planeta, mas não to vou dizer, seria desagradável, por isso sorrio. E o meu sorriso já deve estar gasto e deslavado de o usar em vão.
E ainda, sem fim, sem dares espaço a um esboço de diálogo, prossegues no teu monólogo interminável.
Suspiro, movimento de ar irreprimível, esboço de sinceridade incoercível, traição capital ao meu sorriso amarelo, dou-te a entender o quão entediante tu és. Mesmo assim não compreendes. Talvez por um só momento a tua voz tenha vacilado, talvez por um microssegundo tenhas duvidado antes de te lançares de novo à carga, mas foi imperceptível.
Chego-me à frente, estou quase a adormecer. Neste momento não me és nada e irrita-me que te estejas a apropriar de mim e do meu tempo de forma tão óbvia.
As unhas são sempre a resposta quando já nem suporto olhar para a tua cara, ainda resplandecente do sorriso da vitória - afinal estás a conseguir o queres, a minha atenção total.
A raiva por seres tão óbvio cresce e borbulha dentro de mim, parte de mim quer atirar-te com o café quente à cara para te apagar esse sorriso estúpido. Em vez disso sorrio um pouco mais... Já me doem os cantos da boca do esforço.
Enfim, silêncio, a minha oportunidade de ouro para me pôr daqui para fora. Em vez disso, monopolizas de imediato o espaço de conversa e eu perco a chance de falar, uma vez mais.
Agora não posso mais, o sorriso apaga-se de vez.
"Inês...?" treme-te a voz, parece que percebeste.
Sorrio de novo, agora um sorriso verdadeiramente gelado.
"Está a ficar tarde..." pego na carteira para sair.
"Foi alguma coisa que eu fiz?"
Foi muito mais que isso.
"Até à próxima."
One of us misread
O meu tempo não é teu, eu não sou tua, e tu nunca deverias ter pensado que sim. O facto de o teres feito apenas me insulta e indigna.
A friend is not a means
You utilize to get somewhere
"Fica bem."
How come no-one told me
All throughout history
The loneliest people
Were the ones who always spoke the truth
The ones who made a difference
By withstanding the indifference
I guess it's up to me now
Should I take that risk or just smile?
Chega de sorrisos, tenho de dizer a verdade, já que o teu passatempo favorito é fazer de conta que não compreendes os subentendidos.

Sem comentários: