sábado, junho 07, 2008

Fui Ver


Uma caixa rosada, com a tinta a descascar nos cantos, quadrangular caiu sobre as minhas mãos em concha. Não era muito pesada, calculei que tivesse aproximadamente o peso de um coração...
Virei-a de todos os ângulos possíveis, examinei-a desconfiada. Havia algo nela que me inspirava cuidados. Talvez fosse o aloquete robusto, ou quem sabe, o total silêncio que emanava das suas arestas, como uma aura. Abaneia-a, não emitiu qualquer som, nem mesmo o da fechadura a balançar contra a madeira.
Receei abri-la, mas algo me disse que era a única saída, que era a única resposta. Com muito cuidado, muito carinho, forcei a tampa a levantar-se. Não ofereceu qualquer resistência, para meu maior assombro.
Olhei: estava vazia. Nem uma partícula de pó se abrigava nos seus cantos. Nem uma lasca de tinta a habitava. Vazia, oca, preenchida de um nada maior que todos os vazios.
Suspirei, que alívio! Há mesmo coisas que só pertencem ao passado.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda bem =)
Fecha a caixa e vamos continuar, que o relógio, esse não para nunca *