"Ora... 53 são 70 cêntimos, deixa cá ver... Vou ver se acabo aquilo hoje uma moeda de 50, outra de 10, ui, caiu, Só queria ir ao cinema uma moeda de 10 e duas de 5... 70... ui tenho de marcar o número 53. Tenho de acabar aquilo hoje Ciiiiiinco Trêêês"
Com um estrondo caiu das últimas prateleiras a lata de sumol que eu estava a tentar extrair de uma máquina automática. Peguei-lhe e abri-a. Um líquido gelado de sabor ácido e adocicado tocou-me na língua. Estremeci, estava fria de mais, e comecei a caminhar. Detive-me perante uma janela.
Estava no 8º piso e as "vistas" eram mais ou menos agradáveis, pelo que me sentei no corrimão da escada a observar.
Enquanto girava a latinha na mão a paisagem transfigurou-se-me perante os meus olhos. Não via mais uma dúzia de blocos cansados e cinzentos com janelas demasiado exaustas para ocultarem o seu interior. Não, olhei para baixo e as beatas de cigarros que se acumulavam nos telhados dos andares inferiores deram-me a ilusão de estar, feita Deus todo-poderoso, a espreitar, através das estrelas da esfera celeste, a vida dos humanos lá em baixo na Terra.
Pontos brancos, os Homens passavam de janela em janela. Alguns com pressa e competência, outros devagar e cansados. Muitos cabisbaixos e ensimesmados "quem sabe porque desgraça?", outros ainda distraídos, como se, como eu, estivessem a viver uma ilusão.
Centenas de existências se cruzavam sob o meu olhar atento, mas para mim nada significavam. Eram um enigma profundo, demasiado distante para me preocupar.
E olhei, condescendente para a a "Criação", o triste e harmonioso acumular de cimento que constituía aquele Universo.
Foi então que levantei os olhos e vi algo de singelo: um céu azul-cobalto imperava sobre tudo aquilo. Estava enganada, mais do que uma mera observadora, eu vivia também uma daquela enigmáticas existências
Acabei o sumol e desci as escadas, meditabunda.
Com um estrondo caiu das últimas prateleiras a lata de sumol que eu estava a tentar extrair de uma máquina automática. Peguei-lhe e abri-a. Um líquido gelado de sabor ácido e adocicado tocou-me na língua. Estremeci, estava fria de mais, e comecei a caminhar. Detive-me perante uma janela.
Estava no 8º piso e as "vistas" eram mais ou menos agradáveis, pelo que me sentei no corrimão da escada a observar.
Enquanto girava a latinha na mão a paisagem transfigurou-se-me perante os meus olhos. Não via mais uma dúzia de blocos cansados e cinzentos com janelas demasiado exaustas para ocultarem o seu interior. Não, olhei para baixo e as beatas de cigarros que se acumulavam nos telhados dos andares inferiores deram-me a ilusão de estar, feita Deus todo-poderoso, a espreitar, através das estrelas da esfera celeste, a vida dos humanos lá em baixo na Terra.
Pontos brancos, os Homens passavam de janela em janela. Alguns com pressa e competência, outros devagar e cansados. Muitos cabisbaixos e ensimesmados "quem sabe porque desgraça?", outros ainda distraídos, como se, como eu, estivessem a viver uma ilusão.
Centenas de existências se cruzavam sob o meu olhar atento, mas para mim nada significavam. Eram um enigma profundo, demasiado distante para me preocupar.
E olhei, condescendente para a a "Criação", o triste e harmonioso acumular de cimento que constituía aquele Universo.
Foi então que levantei os olhos e vi algo de singelo: um céu azul-cobalto imperava sobre tudo aquilo. Estava enganada, mais do que uma mera observadora, eu vivia também uma daquela enigmáticas existências
Acabei o sumol e desci as escadas, meditabunda.