Sempre evitei falar deste assunto aqui porque não tenho uma opinião rígida sobre o mesmo e porque penso que é um questão pouco relevante na nossa sociedade, o aborto.
Não quero discutir este tema, mas a falta de pertinência que os nossos políticos mais uma vez demostraram ao chamá-lo à discussão pública.
Razões pelas quais eu acho o referendo um pouco ridiculo (perdoem-me a frontalidade):
1) Não me digam que não se lembram de mais NADA que precisa de ser mudado na sociedade... Já agora e uma vez que, segundo os apoiantes do sim (que designação redutora para o ponto de vista de alguém, mas...) tratamos de uma questão de saúde pública, porque é que ninguém prefere perguntar-nos se queremos ver os nossos hospitais privatizados? Eu preocupo-me com este tema bem mais do que com o que vai a referendo, como futura médica e como inevitável utente.
2) Porquê eu? Quem sou eu, Agripina de Sousa, bancária, João Antunes, motorista, Alberta Silva, advogada ou mesmo Bárbara Magalhães, médica para dizer o que é uma vida e qual o seu valor. Porque é que este problema é posto à sociedade civil, o que percebemos nós da "poda"?
3) Ultrapassamos a barreira da simples despenalização, queremos comparticipar. E a minha cirúrgia, da qual já estou à espera há anos? Não será justo questionar? Porque é que vamos sobrecarregar o SNS com mais um tratamento que a meu ver não é urgente, necessário nem vai, obrigatoriamente melhorar a vida de alguém (até pode causar o contrário, veja-se!). Porquê pôr os médicos dos nossos hospitais perante um dilema ético? Não era mais humano deixar aqueles que entendessem querer praticar esses actos praticá-los onde bem entendessem, mas não nos hospitais que nós financiamos? Vejam a posição desse médico que está a atender pessoas num hospital quando lhe pedem para que faça um aborto. O dever do médico é preservar, melhorar a Vida, não tirá-la. Praticar um acto abortivo viola frontalmente o código deontológico....
E mais, o governo dá, perdoem-me o pleonasmo, DE GRAÇA a pílula contraceptiva.... só não toma quem não quer.
4) São assim tantos os abortos que se praticam? Se sim será a despenalização a questão importante ou o péssimo resultado que a educação sexual (bem como a outra) está a ter na nossa sociedade. O que é que falhou, não é melhor procurar primeiro a causa do que tentar mexer num resultado?
Como vêm existem inúmeras outras questões que deveriam ser abordadas, e estamos a perder tempo e dinheiro com a que é, a meu ver, a menos pertinente.
Não sou pelo sim nem pelo não, não é isso que quero ver discutido como cidadã portuguesa, já como futura médica(???? imaginemos que sim, não é?), o caso muda de figura e sou frontalmente contra que um médico pratique um acto anti-vida.
Vamos mudar de assunto, po favor... Falemos da Sida, falemos da pobreza, falemos do desemprego, falemos do caos em que está a nossa economia e do nosso futuro, não de pseudo-assuntos pseudo-importantes.
Para quem quiser mesmo discutir este assunto, no blog do meu colega Nuno (lista de Links) está em aberto um debate de extremo interesse no qual também participei.
sábado, janeiro 20, 2007
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