Finals Countdown, Amateur Transplants
É verdade, estão aí os exames...
"If life seems jolly rotten
There's something you've forgotten
And that's to laugh and smile and dance and sing."
Always Look on the Brigh Side of Life, Monty Python
It's hard to remember how it felt before
Now I found the love of my life...
Passes things get more comfortable
Everything is going right
And after all the obstacles
It's good to see you now with someone else
And it's such a miracle that you and me are still good friends
After all that we've been through
I know we're cool
We used to think it was impossible
Now you call me by my new last name
Memories seem like so long ago
Time always kills the pain
Remember Harbor Boulevard
The dreaming days where the mess was made
Look how all the kids have grown
We have changed but we're still the same
After all that we've been through
I know we're cool
And I'll be happy for you
If you can be happy for me
Circles and triangles, and now we're hangin' out with your new girlfriend
So far from where we've been
I know we're cool
"Bem sei que não amamos ninguém pelas suas virtudes, sim, outrora, acreditava que amávamos mais os oprimidos, os prevaricadores, os conflituosos que a virtude, e depois envelheci e aprendi, e hoje sei que até mesmo as faltas e erros de um ser nos não fazem amá-lo, como o não faz a sua beleza, a sua bondade ou as suas virtudes. É uma coisa que talvez só se compreenda no fim, quando a sabedoria e a experiência já não significam grande coisa. Trata-se de uma dura lição, por certo, e não contém conforto nem adulação - temos que admitir que não amamos uma pessoa pelas suas qualidades e defeitos, por ser bela ou, por estranho que pareça, por ser feia, corcunda ou pobre; amamo-la simplesmente porque existe no Mundo uma vontade cuja substância verdadeira não conseguimos penetrar, que quer exprimir-se ao acaso da sua inspiração para que o mundo inteiro na sua rotação eterna se renove e que, por razões incompreensíveis, toca com força terrível os nervos, acelera o trabalho das glândulas e perturba os cérebros mais brilhantes."
Não aguento que me olhes assim.
Sei que sou forte: derrotaria exércitos se tivesse afiada a minha espada, saltaria para o dorso do meu corcel e cavalgaria sem vacilar ao seu encontro; venceria as maiores agruras da alma humana se apenas levasse comigo uma luz para me alumiar a escuridão; sofreria a maior e mais humilhante das derrotas de cabeça erguida, mas não suporto esse teu olhar.
Sou forte, mas esse brilho magnético, cativante, sedutor, quente e muito enigmático prendem-me como um insensato insecto se prende a uma luz vã.
Não sou mais dona dos meus pensamentos, das minhas palavras - das minhas acções! - quando me olhas com esse teu sorriso trocista (um pouco até desdenhoso).
Tem de haver uma qualquer explicação científica, psicológica, esotérica - uma qualquer! - para eu ficar assim.
Deve ser uma mistura de fluídos inflamados, qualquer recalcamento da minha infância misturados com a conjugação astral perfeita à hora do meu nascimento que me põem indefesa.
Caiem-me a armadura, a espada, o escudo e as roupas. Fico nua.
E deve ser por causa da adrenalina ou de uma qualquer outra molécula extraviada que eu fico em desatino.
Não me olhes assim! É desonesto.
A noite estava quente em Nova Iorque. As baforadas de ar tórrido subiam dos respiradouros do metropolitano e intrometiam-se nas bainhas das minhas calças.
Os meus passos são incertos no meio desta multidão efervescente sem rumo.
Dou comigo a caminhar em direcção de Times Square.
Uma miríade de luzes e cores verte-se sobre mim: brilhos de um milhão de estrelas demasiado próximas. Julgo estar no centro de uma supernova em explosão.
Fico cega por uns instantes. Os meus ouvidos recebem os sinais mais contraditórios. O constante linguarejo que resulta da fusão de todos os idiomas do Mundo, o resmungar mecânico dos automóveis e passos... Muitos passo à minha volta, a envolver-me.
Também os cheiros me abordam. Ali vendem-se nozes doces e pouco mais à frente comida israelita. O tom sufocante dos escapes, no entanto, sobrepõe-se a todos os outros.
Lentamente recupero a visão, começo a distinguir formas e contrastes no meio do clarão.
E vejo-te. Começas por ser uma sombra contra um néon. Não mais que uma mancha negra. Mas depois aproximas-te e ganhas definição.
Conheço-te, sei quem tu és e já te sinto de antecipação.
Aproximo-me também. Junto-me ao muro de gente que tenta atravessar a rua e dou por mim no centro da praça. Tu também lá estás.
Tento falar, mas tu franzes o sobrolho (também não saberia o que dizer...).
Os primeiros acordes mal se distinguiam, mas depois foram-se afirmando. Dois ou três músicos começaram a tocar um tango a pouca distância dali, em troca de alguns "quarters".
Sinto a tua mão na minha cintura e a tua respiração morna no meu pescoço.
Muito suavemente conduzes-me nos primeiros passos daquela dança.
As minhas pernas tremiam-me. Não sabia onde pôr os pés, mas o teu enlace deu-me confiança e compasso a compasso o nosso tango desenhou-se.
Assim insólitos - dois apaixonados um tanto desconhecidos no meio de uma praça cheia de gente. Não fazia sentido a não ser para nós.
Bem lá longe a lua e as estrelas observavam obscurecidas pelo vidro fosco das luzes terrenas e ditavam as suas sentenças.
O teu peito tão perto do meu palpitava em sintonia com o acordeão e a tua respiração afinou com a minha.
A música cresceu num clímax discreto e perdi a consciência do que me rodeava.
Até que terminou - tal como era - gritante, pungente, indomável e traída como o tango que se ouvira.
E tu deixaste-me ir. Os teus dedos desenlaçaram-se dos meus, o teu braço abandonou a minha cintura com a suavidade de uma onda de maré vaza.
Viraste costas. Nunca te perdoarei. E voltaste a fazer parte da multidão. Primeiro uma sombra e depois nem isso.
Fiquei sozinha naquela explosão apoteótica de luz com toda a noite do Universo no meu peito.